[Resenha] Crenshaw - A Fome da Imaginação da autora Katherine Applegate - Plataforma 21

Autora: Katherine Applegate
Páginas: 224
Editora: Plataforma 21
Adicione: Skoob
Avaliação: 5/5 Favorito!

Sinopse: São tempos difíceis para Jackson e sua família. O dinheiro para o aluguel acabou. E talvez não sobre nada para as compras do mês. Mais uma vez, seus pais, sua irmã e sua cachorrinha terão de deixar o prédio onde moram para viver em uma minivan. Mas, pior do que a falta de dinheiro e as incertezas com relação ao futuro, é a mania dos pais de Jackson de tentarem encobrir os problemas. O garoto é jovem demais para entender a situação, é o que eles pensam. Na verdade, é o que todos pensam. Todos, exceto Crenshaw. Crenshaw é um gato... um gato gigante e imaginário. E é ele quem vai ajudar Jackson a encarar de frente a dura realidade. No início, o menino tenta rejeitá-lo como um mero produto de sua imaginação, afinal, quem aos dez anos ainda é capaz de ter amigos imaginários? Mas a sinceridade e a sabedoria do gato começam a ecoar em sua vida.

Eu imaginei uma história diferente. Pensei que iria encontrar as aventuras de um menino e seu amigo imaginário até que ele estivesse seguro suficiente para crescer sozinho. Mas Katherine Applegate tinha outros planos. Não esperava me emocionar tanto. Faz tempo que não chorava assim.

Em “Crenshaw – A Fome da Imaginação”, temos um enredo simples, com uma narrativa muito direta e que fala de uma realidade muito difícil. A família de um menino chamado Jackson precisa de ajuda. Ele e sua irmã estavam com fome. Mas não havia nada para comerem. Seus pais viviam trabalhando, mas nunca era suficiente para pagar as contas. Os poucos pertences que ainda possuíam teriam que ser vendidos.

“-Antigamente, quando sempre tinha comida em casa, eu reclamava se minhas coisas preferidas acabavam. Mas nos últimos tempos tudo estava acabando, e eu suspeitava que meus pais se sentiam mal por causa disso.”

Foi nesse momento que Crenshaw apareceu. O gato. Mas não era qualquer gato. Era o gato que só ele via.

“Fechei os olhos de novo. Contei até dez. Abri os olhos, e o guarda-chuva – ou chapéu de sol, ou o que quer que fosse – tinha desaparecido. Assim como o gato. Era fim de junho, fazia calor e estava gostoso, mas eu tremi. Eu me sentia daquele jeito que a gente se sente antes de pular na parte funda da piscina. Estamos a caminho de algum lugar. Ainda não chegamos lá. Mas sabemos que não há volta.”

A situação era desesperadora. Em um crescente, tudo só piorava. Iremos nos angustiar e ter medo por eles. Até que o inevitável estava prestes a acontecer: eles iriam perder a casa e não teriam onde morar. 

O que fez Jackson lembrar que essa não era a primeira vez. No passado, viveram no carro por 16 semanas. O que eles compartilharam naqueles dias é uma experiência que ninguém deveria ter. Eu não consegui segurar o choro. Foram cenas muito tocantes.

“Minha mãe diz que só viu meu pai chorar três vezes. Quando eles se casaram, e quando Robin e eu nascemos. Eu vi meu pai se apoiar contra o capô do nosso carro e cobrir os olhos com a mão. Seu rosto estava úmido, mas eu disse a mim mesmo que provavelmente era só chuva.”

Por isso não é justo. Eles conseguiram sair daquela situação. Conseguiram um apartamento. E agora, iriam voltar para as ruas? Qualquer um perderia a fé, se revoltaria. E é exatamente assim que Jackson está. Ele não aguenta mais. 

“As crianças sempre têm que amar a mãe e o pai? – perguntei. Eu olhei o reflexo do meu pai no espelho retrovisor. Ele me olhou de volta com uma interrogação nos olhos. – Pense desse jeito – ele disse. – Você pode ficar bravo com alguém e ainda amar essa pessoa de todo seu coração”

Iremos acompanhar o sofrimento dos pais que não sabem mais o que fazer. A humilhação, o sentimento de fracasso. E iremos acompanhar o sofrimento dos filhos, que sabem que tem algo errado. 

E o que mais chamou minha atenção foi que Jackson passou a historia inteira lutando contra a presença de Crenshaw, tentando descobrir uma explicação lógica para a existência dele.

E como ele quer ser cientista e gosta muito de fatos, ele mesmo começou a investigar a aparição do gato. Tentava lembrar quando foi a primeira vez que o viu para solucionar esse mistério: por que ele voltou? O que ele está fazendo ali? Por que ele não vai embora? Quando ele ira desaparecer?

No final, ele finalmente vai entender. Não demorou muito para ele descobrir quem era o gato. Não demorou muito para ele perceber que Crenshaw estar ali significava que ele precisava de socorro.

Katherine Applegate nos trouxe um lindo enredo sobre a luta pela sobrevivência diária. Emocionou-me com uma família que mesmo sem forças, se manteve em pé, unida e nunca desistiu. Iremos ver pelos olhos de cada um deles, dos pais, da irmã e de Jackson, o que foi passar por isso, como cada um enfrentou. A perspectiva dos adultos e a das crianças. 

A forma como os pais tentaram proteger os filhos, apesar de estar sendo muito duro para eles. A mensagem de que podemos perder tudo, mas estaremos bem se estivermos juntos daqueles que amamos. Com o amor podemos vencer qualquer dificuldade. 

E para fechar com chave de ouro, um final perfeito: a autora não trouxe um milagre. Ela trouxe uma promessa de esperança. Segurem os lencinhos, é só o que posso dizer. 

Uma história para pequenos e grandes. Mas aviso: por nós sermos mais velhos, teremos a noção de que poderia ser qualquer um no lugar deles. Por isso dói tanto, pois nós sabemos o quanto é possível de acontecer, do quão real foi cada linha. Ninguém está livre desse amanhã.

Não esperava que a autora com poucas páginas pudesse me dar tanto. Amei o livro, amei os personagens. Torcendo para que a editora traga mais livros de Katherine Applegate.

Recomendo muito!!!!

Estou muito feliz pois essa foi minha primeira resenha e tive a sorte de já favoritar. Escolhi o livro certo para inaugurar minha colaboração aqui no blog. E a Priscilla falou que é o primeiro livro favorito do Nas Tuas Páginas. Emoção dupla então. Espero que gostem.

Beijinhos. Rafinha. 

(Resenha da Colaboradora Rafaela Duarte)